Eu era muito jovem e pouco influenciado pela música gaúcha. Gostava de Rock. Fã de Led Zeppelin. A minha maior referência gaúcha era o grupo "Os Almondegas". Um dia meu pai levou para casa uns discos da Califórnia da Canção e, quando comecei a ouvir percebi que existiam alguns trabalhos de excelente qualidade. Comecei então a prestar atenção ao movimento nativista e nasceu em mim a vontade de participar daquele movimento.
Em dezembro de 1976, aos 22 anos, fui trabalhar em Canela- RS na função de Oficial de Justiça, porque recém havia feito (e tirado 1º lugar) concurso para o cargo, porém a música não saia da cabeça e o meu sonho era conseguir uma transferência para trabalhar em Porto Alegre ou proximidades, tudo por causa dela (música). Em 1979 consegui transferência para Viamão, aproximando-me de Porto Alegre e dos músicos nativistas. Conheci Leopoldo Rassier através do tio Dinco (apelido de família de Antonio Augusto Ferreira). Ele, tio Dinco, morava em Santa Maria e foi visitar o tio Humberto, seu irmão, em Porto Alegre, na rua Itororó, 41. Na casa do Tio Humberto, onde estava eu aquerenciado por uns tempos, apareceu o Leopoldo, que comentou estar com uma música na Califórnia. Estavam procurando músicos... foi aí que o tio Dinco falou: "O Ewerton é músico e toca violão". Então fui convidado pelo Leopoldo para um ensaio na casa do poeta Luis Coronel, fazer um teste. Fui aprovado para tocar na música Facho da Estrela Guia, de Luis Coronel e Airton Pimentel (IX Califórnia - 1979), cantada por Leopoldo Rassier e Vitor Hugo. Esses músicos, Leopoldo Rassier e Airton Pimentel foram responsáveis pela minha participação na Califórnia. O trabalho ganhou a linha de Manifestação Riograndense.
A seguir, no verão de 1980, fui convidado por Airton Pimentel a participar de um show denominado ''Nova Canção do Sul'', no Teatro de Câmara, em Porto Alegre, juntamente com Dorval Dias, Chuchu da Gaita e Gilberto Monteiro. Depois da última apresentação do show, fomos todos para um bar, tomar uns tragos. Dali saí, bem faceiro, montei no meu motociclo e, depois de algumas quadras (de cidade), fui atacado por um auto-de-praça (taxi), batendo a cabeça e ficando desacordado. O capacete, que estava pendurado no braço, nada sofreu, saiu ileso (naqueles tempos não se exigiam essas frescuras de capacete), mas o pior foi a perna esquerda (tíbia e perônio esmigalhados pelo para-choques do auto-de-praça (um fusca). Resultado: três cirurgias, cadeira-de-rodas, muletas e um ano de licença, esta última, a única coisa boa, pois nada melhor para um entrevado da perna do que... um violão para passar o tempo.
O tio Dinco, o Antônio Augusto Ferreira, que no meio nativista tem outro apelido - ''Tocaio Ferreira'' - esse apelido é por causa do Antônio Augusto (Nico) Fagundes que, certa feita, em um determinado local chamava o tio de Tocaio Ferreira, então, TODOS que lá estavam começaram a chamar o tio de "Tocaio'' (o mesmo que Xará)... como eu ia dizendo o tio Dinco, o Tocaio, foi me visitar na casa de minha irmã em Porto Alegre, ali na Av. Getúlio Vargas, pois naquela feita estava eu lá entrevado e hospedado. Ele me encontrou com o violão na mão, dizendo que pretendia participar da X Califórnia, desta vez como compositor. Ele me viu entusiasmado e também se entusiasmou, e também meio com pena de mim, foi prá casa e escreveu a letra de Veterano. Alguns dias depois, voltou à Porto Alegre e em nova visita, entregou-me a letra sugerindo uma milonga. Gostei da letra, dediquei-me ao trabalho e compus uma melodia, porém com outro rítimo, um Chamamê...quando mostrei a melodia o tio explodiu de alegria, e eu também. Sentimos que seria um trabalho forte e competitivo. Com a animação que ficamos e dividimos com a família, compusemos também Entardecer e Pago Perdido. As três músicas foram classificadas na triagem e passaram para o disco, sendo Veterano a grande vencedora da X Califórnia. O sonho querido e ao mesmo tempo inesperado, aconteceu.
Bons tempos, Ewerton. Recordo com saudade, da nossa parceria (Os Posteiros) em "Descaminho", letra do Antonio Augusto Ferreira e melodia tua, com que conquistamos a linha de manifestação rio-grandense da 12ª Califórnia e o 1º Festival Tchê. Difícil é não vivenciar mais estes momentos. Mas, é nosso dever relatar às atuais e novas gerações, o que de muito bom aconteceu em nossas vidas.
ResponderExcluirAbraços,
Chico Koller/Os Posteiros.
Um grande músico, também me criei em meio ao rock e aprendi posteriormente a curtir o nativismo, e posso dizer com certeza que as duas músicas que mais me influenciaram a isso foram "veterano" e "nas minhas mãos"
ResponderExcluirUm grande músico, também me criei em meio ao rock e aprendi posteriormente a curtir o nativismo, e posso dizer com certeza que as duas músicas que mais me influenciaram a isso foram "veterano" e "nas minhas mãos"
ResponderExcluir